O Carnaval em Juiz de Fora

Publicado por Rota do Samba em

O Carnaval em Juiz de Fora

Por Renan Alexandre Ligabo de Carvalho
Victor de Oliveira Rosa

Introdução

O Carnaval em Juiz de Fora remete-se à fundação histórica da cidade. A festividade passou por inúmeros momentos, desde o Entrudo até os desfiles das Escolas de Samba. O Carnaval é composto também pelos tradicionais blocos carnavalescos, que fazem parte da estrutura deste evento. Abaixo será traçado um panorama da festividade na cidade.

Os primórdios

Desde o surgimento do povoado de Santo Antônio do Paraibuna, em 1820, a forma de se brincar o Carnaval no Brasil foi agregada pelos moradores desta região. O tradicional entrudo, prática trazida pelos colonizadores portugueses, animavam os foliões. Nas palavras do escritor juizforano Pedro Nava “(…) mas o bom mesmo era o entrudo. Havia instrumentos aperfeiçoados para jogar água (…) que, quando apertados, deixavam sair um delicado esguicho de água perfumada (…). Havia os revólveres – seringas que imitavam forma de água – cano metálico e o cabo de borracha que se apertavam, apontando quem se queria molhar. Os limões de todos os tamanhos e cores que eram preparados com semana de antecedência e em enorme quantidade. Continham água-de-cheiro, água pura, água colorida, mas os que nos caiam da sacada do Barão vinham cheiros de água suja, de tinta, de mijo podre (…).” (Revista Em Voga, 1989 – citação de Pedro Nava em 1907)

Como descrito na citação de Nava, a manifestação do entrudo em Juiz de Fora tinha seu caráter de mau gosto com algumas brincadeiras hostis, mas, ainda assim, não chegava a apresentar o grau de violência encontrado, por exemplo, no Rio de Janeiro. Muito criticado pela mídia crescente, “(…) em 1889, o jornal local O Farol noticiava o fim do entrudo em Juiz de Fora.” (COIMBRA, 1994)
Também no ano de 1889, foi criado o clube dos Valapuquistas, primeiro clube de grande sociedade, que se apresentou no mesmo ano com cinco carros abertos, em um ousado corso para a época. Tal prática que terá seu auge nos anos de 1930 e parte dos anos 1940 consistia em “(…) carros conversíveis (de capota dobrável ou removível), em fila única e marcha lenta, um quase colado ao outro, formava um imenso cortejo que circulava durante horas e horas pelas ruas centrais, praticamente amarrados uns aos outros por coloridas pontes de serpentinas – e ocupados por blocos de foliões fantasiados, que cantavam os sucessos do ano (…).” (Revista Em Voga, 1989) Como temas para o desfile do corso, as grandes sociedades faziam alusão aos problemas da época, dotando o desfile de um cunho social.

Desenvolvimento
Ao final da década de 1930, até a década de 60, pode-se dizer que o auge do Carnaval mudou de foco e a festa nos clubes pairou sobre Juiz de Fora. Além dos tradicionais Club Juiz de Fora, Sport, Clube Bom Pastor e Dom Pedro II, os bailes carnavalescos se expandiam para todo o lado, incluindo o Clube dos Planetas, dos Grafos, do Elite, Tupynambás, Tupi, Associação do Empregados do Comércio e o Círculo Militar.
Junto ao surgimento dos clubes das grandes sociedades, aparecem os ranchos, cordões e blocos, organizados pelas classes populares. Algumas dessas agremiações carnavalescas se tornaram tão tradicionais na cidade que são lembradas até hoje. Do início do século, vale destacar os ranchos: “Quem são eles?” – ligado ao Tupynambás, e os “Rouxinóis” – filial do Tupi. Outros blocos importantes são: “Zebu Chorou Tá no Laço”, o “Não Venhas Assim”, “Boi da Manta”, “Amargosos”, “Picaretas”, “Não Tem que Achar Ruim”, “Miss Jonas”, “Aventureiros”, “Caprichosos da Folia” e “Quem pode, pode”. “O carnaval de rua cresce em importância e as agremiações existentes se tornam pequenas e impróprias para abrigar os foliões, tanto quantitativamente quanto qualitativamente”. (COIMBRA, 1994)
Alguns destes blocos cresceram tanto que se tornaram raízes de Escolas de Samba da cidade, fato observado pelo bloco “Feito com Má Vontade”, atualmente Escola de Samba Turunas do Riachuelo e com o bloco “Cordão do Arado”, que deu origem à Escola de Samba Castelo de Ouro.
Como o movimento dos blocos e similares era organizado por classes populares, havia uma tendência de creditar aos seus foliões a alcunha de marginais. Buscando se livrar desta imagem estereótipa, os grupos de sambistas da época tentaram oficializar estas manifestações, dando início à criação das primeiras Escolas de Samba. Em 1934 é fundada a Turunas do Riachuelo, primeira Escola de Samba de Minas Gerais e quarta do Brasil. Em seguida surge a Feliz Lembrança (1939) e na década seguinte, em 1947, é criada a Castelo de Ouro.
A festa do Carnaval começou a se expandir pela cidade. O que contribuiu enormemente para isso foram as chamadas batalhas de confete, onde escolas de samba mostravam seus sambas de improviso nos dias que antecediam o Carnaval. A grande rivalidade eram as batalhas da Rua Marechal e da Rua Halfeld. Como havia diversos concursos em área distintas da cidade, as batalhas de um bairro e a de outro não tinham nenhuma ligação e, por vezes, a Escola podia ser campeã em locais diferentes. (Revista Em Voga, 1989)
Nos anos que se seguiram era costume as Escolas se enfrentarem em desfiles calcados no improviso de sambas. Além dos sambas previamente compostos pela ala de sambistas de cada Escola, uma comissão julgadora determinava um tema e, pouco tempo depois, os sambistas apresentavam a música que haviam acabado de compor. Seguiam-se vários sambas que se tornavam “(…) uma verdadeira prova de fogo para qualquer expert (…).” (COIMBRA, 1994)
No entanto, o Carnaval juizforano ainda tinha nos clubes uma alternativa para diversão da chamada alta sociedade. Eram diversos bailes temáticos, sendo o mais conhecido, o Baile dos Casados, realizado no Palace Hotel, onde todos compareciam mascarados e os costumes da época eram deixados em parte de lado, já que “(…) durante as voltas no salão, os pares se redescobriam. Às vezes não.” (COIMBRA, 1994) Segundo João Medeiros Filho (Revista Em Voga, 1989), nos “(…) dias de Carnaval à tarde (…) os clubes organizavam seus bailes mais avançados, ou seja, as gatinhas, (mulheres que se escondiam sob máscaras, geralmente da alta sociedade) se divertiam com os coroas que, ávidos, partiam em busca de novas emoções durante o Carnaval – o que de certa maneira era permitido pelas tradicionais famílias e mesmo esposas exclusivistas (…).”
Em entrevista ao site Acessa.com, no ano de 2005, o radialista da cidade Mário Moraes define bem o carnaval de bailes em sua época áurea: “Foi nos anos 50 e início da década de 60 que os bailes tiveram seu apogeu. Nós, da rádio, fazíamos transmissão ao vivo dos bailes da cidade, principalmente os do Sport Club e do Clube Bom Pastor. A (…) decadência das festas de carnaval nos clubes ocorreu porque as pessoas migraram para as escolas de sambas, influenciadas pelo carnaval carioca (…).”

O apogeu

Nos anos 60, costumes advindos da época do nascimento das primeiras Escolas de Samba foram transformados. As batalhas de confete não mais aconteciam e a diversão do povo passou a ser os ensaios nas quadras. A partir daí, iniciou-se a rivalidade entre as Escolas de Samba, no que diz respeito ao enredo e aos elementos que cada uma utilizaria.
Até meados da década de 1960, não existia um concurso oficial do Carnaval juizforano. As escolas se apresentavam com o único intuito de alegrar o público, utilizando-se de vários sambas, porém nenhum fazendo alusão ao enredo. Para as fantasias, utilizavam-se excessivamente o estereótipo do malandro carioca e das baianas, destacando apenas o mestre-sala e a porta-bandeira.
Toda esta tradição começou a mudar a partir do ano de 1966, quando aconteceu o primeiro desfile oficial do Carnaval da cidade, promovido pela administração municipal, através do extinto Departamento Autônomo de Turismo. Neste ano a Escola Feliz Lembrança venceu, apresentando um dos desfiles mais memoráveis da cidade, com o enredo Mascarada Veneziana. Nas palavras de Gilson Campos, grande compositor de sambas da cidade, pode-se compreender a grandiosidade deste feito (Revista Em Voga, 1989):

“Nestes mais de 40 anos de Carnaval, lembro-me que o melhor vivido por mim foi o de 66, quando a Feliz Lembrança veio com o enredo Mascarada Veneziana, arrebentando em termos de música, letra, enredo e desfile (…) sob a batuta do maestro Nélson Silva, foi um carnaval que empolgou o público (…)”

            “A Feliz Lembrança inaugura uma nova fase no Carnaval: a do enredo trabalhado, em toda sua plenitude e com figurinos fora do tradicional (…) uma verdadeira ópera popular.” (Revista Em Voga, 1989) “Pela primeira vez na cidade, uma Escola de Samba apresentou um carro alegórico. E não era qualquer carro: o Gran Finale do desfile apresentava uma piscina móvel com uma gôndola flutuando, em tamanho original. A música especialmente composta para o enredo apresentava elementos do samba-enredo, como o tom épico e a narrativa extensa. As fantasia acompanhavam os motivos do desfile.” (COIMBRA, 1994)
“A década de 1970 marcou nesta história a retomada da grande força das Escolas e blocos. Nos últimos sete anos as atividades vem consolidando sua força e hoje já é lícito admitir que elas reduziram ao mínimo o brilho das grandes festas nos clubes.(…)” (DIÁRIO MERCANTIL, 20/02/1977)
“Redimensionado, a partir de 1977, quando ganhou arquibancadas metálicas, decoração e iluminação especiais, o Carnaval de Juiz de Fora foi, um ano depois, reconhecido oficialmente pela Empresa Brasileira de Turismo – Embratur, que passou a relacioná-lo no calendário nacional. No ano passado (1979 – grifo nosso), com o mesmo incentivo e apoio da administração municipal, nosso Carnaval ficou entre os três melhores do país e o maior de Minas Gerais, de acordo com pesquisa e classificação da Riotur, um dos maiores órgãos de coordenação e promoção turística.” (Revista Oficial do Carnaval JF, 1980)
Ainda em 1977, a prefeitura municipal preparou e distribuiu na cidade e região, 20 mil folhetos informativos sobre os eventos do Carnaval em Juiz de Fora. Além de grandes anúncios da festa divulgados no Jornal Diário Mercantil, o Carnaval contou com um patrocínio cuja marca ficava exposta no logotipo da festa. Tal prática de patrocínio permaneceria por mais alguns anos, contribuindo para fortalecer as bases deste evento.

O ano de 1978 deu uma prévia de como seria um Carnaval bem organizado. Segundo a prefeitura, para o ano seguinte, esta festa tradicional seria melhor estruturada, “(…) com trabalhos começando em março e início da divulgação (com cartazes e toda a propaganda envolvendo a festa) em setembro deste ano.” (DIÁRIO MERCANTIL, 09/02/1978)

O Carnaval de 1979, conhecido como Adeus Avenida, seria o último realizado na tradicional Avenida Rio Branco, pois a mesma passaria por obras no ano seguinte, fato que ocorreu somente em 1981. Em 1979, Minas Gerais e, mais precisamente, Juiz de Fora, sofreram com fortes chuvas, desencadeando vários desastres. Ainda assim, a cidade conseguiu realizar um Carnaval de destaque no âmbito nacional, obtendo lotação máxima em seus hotéis e presença de diversos artistas nacionais, alguns convidados pela administração municipal. Dado que comprova esta crescente procura turística pela cidade, é o de que foram solicitados 90 horários extras de ônibus da linha Rio-Juiz de Fora e 22 Belo Horizonte-Juiz de Fora. (DIARIO MERCANTIL, 25/02/1979)
Como uma jogada de marketing, a administração municipal lança campanha na mídia nacional, divulgando o Carnaval de Juiz de Fora como o 2° melhor do país. Alguns dos produtos desta campanha foram a gravação do primeiro LP com os sambas-enredos de 8 das Escolas de Samba do primeiro e segundo grupos, e a transmissão dos desfiles de Carnaval pela Rádio Sociedade, em 1979. Esta estratégia surtiu tamanho efeito, que cerca de um mês antes do Carnaval, os ensaios das Escolas de Samba da cidade se apresentavam lotados, com ingressos esgotados. (DIARIO MERCANTIL, 06/02/1979) Até mesmo colunistas sociais, que praticavam certos questionamento acerca de aspectos sócio-econômicos da cidade se rendiam ao esplendor do Carnaval, como Carlos H. Ângelo no Diário Mercantil de 14 de dezembro de 1981:

“(…) Uma cidade pobre com seus trezentos e poucos mil habitantes, sem recursos, mais que se mete a ter o segundo Carnaval do país, em termos de desfiles de escolas de samba. Os desfiles de escolas paulistas não são considerados porque quem já ouviu falar de sambista em São Paulo?

Em 1980, mesmo com a falta de recursos (fato observado também em anos anteriores), Juiz de Fora conseguiu grande sucesso na execução desta festa tradicional. Com a ajuda da empresa carioca COPROEX – Companhia de Projetos Executivos, responsável por toda a organização, exploração de serviços e coordenação de parte executiva dos desfiles, o Carnaval da cidade logrou o êxito desejado. A organização foi muito elogiada pelo público e imprensa, desde a montagem da infra-estrutura (taxada com confortável e visualmente agradável) até a execução de eventos paralelos pré-carnavalescos, como o realizado para crianças no Parque Halfeld. (DIARIO MERCANTIL, 09/02/1980) O colunista social Décio Cataldi teve a seguinte visão sobre a festa:

“Há alguns anos nada tínhamos no Carnaval de rua. Aliás, era um fracasso total. De súbito, a Rio Branco passou a apresentar o maior show carnavalesco de Minas Gerais. (…) Vamos ver como ficarão as coisas, pois o sucesso da festa na rua virou verdadeira psicose.” (DIARIO MERCANTIL, 10/02/1980)

Diante desta explosão do Carnaval de rua, como descreve Décio, acrescido das ações pré-carnavalescas das Escolas com participação de Agremiações cariocas (como os ensaios com apresentações de tradicionais Escolas de Samba Império Serrano e Beija-Flor, na sede da Escola Partido Alto e Juventude Imperial, respectivamente), e que atraía cerca de 3500 pessoas cada uma, os clubes que realizavam bailes carnavalescos tiveram uma grande queda de participação. Buscando amenizar a crise, além da decoração feita por artistas plásticos renomados, alguns clubes começaram a levar em seus bailes parte da bateria de algumas Escolas de Samba juizforanas, ação que surtiu efeito, no sentido em que estes bailes foram considerados mais animados do que os anos anteriores. (DIARIO MERCANTIL, 09/02/1980)
O Jornal da época, Diário Mercantil (15/02/1980), considerou dois problemas na execução desta festa no ano de 1980. O primeiro trata do regulamento da competição dos desfiles, onde as escolas do primeiro grupo desfilam duas vezes, sendo que somente o segundo dia era avaliado. Este quesito pode ser considerado falho na media em que as agremiações não se empenhavam em realizar um bom desfile no primeiro dia, deixando para o segundo sua empolgação máxima. Outro problema foi o da presença de cambistas na venda de ingressos da arquibancada, o que inflacionava o preço final. Tal problema só seria sanado no Carnaval de 1984, onde a venda de ingressos foi restrita a três por pessoa.

Já no ano de 1981, o então prefeito Mello Reis decide criar o Departamento de Promoções – DEPROM, que tinha por objetivo desenvolver as atividades de lazer e turismo. A principal função deste departamento era a de organizar, promover e desenvolver o Carnaval na cidade. Várias ações foram tomadas e dentre elas, pode-se citar as melhorias na iluminação na área dos desfiles, a alocação destes na Avenida Francisco Bernardino e distribuição de prêmios aos foliões e aos blocos carnavalescos, a fim de incentivá-los a brincar o Carnaval. Tal iniciativa não se mostrou eficaz, visto que neste ano houve uma queda considerável nas reservas em hotéis e o Carnaval já não atraiu tantos turistas. (DIÁRIO MERCANTIL, 19/02/1981) Muitos jornalistas da época creditaram a culpa deste insucesso à mudança do local do desfile.
1982 foi o ano da redenção: “Terceiro do país e melhor de Minas, o Carnaval de Juiz de Fora neste ano de 1982 repete o mesmo sucesso que vem alcançando nestes últimos cinco anos. (…) Para o prefeito Mello Reis, o Carnaval – como festa popular de maior expressão – não pode ficar sem o decisivo apoio dos poderes públicos, uma vez que todo e qualquer sacrifício feito para sua organização é perfeitamente gratificante no momento dos desfiles, coroados de brilho, luzes, cores e muito samba. (…) Este ano, o Carnaval aparece pela primeira vez na Avenida Getúlio Vargas, mas com a mesma beleza e organização que o consagraram na Avenida Rio Branco”. (Fernando Rainho, Revista do Carnaval JF, 1982) A decoração foi entregue ao artista plástico Carlos Mirando (Ratinho), que, tendo por base o tema Gran Circo, utilizou uma grande quantidade de material (25 toneladas de madeira, plástico, 10 mil metros de fio, 14.300 lâmpadas, empregando 40 profissionais, totalizando Cr$ 27 milhões em investimentos). (Revista Oficial do Carnaval JF, 1982)
Para o presidente da Comissão Organizadora do Carnaval e Secretário de Governo, Fernando Rainho, o êxito dos festejos de Juiz de Fora é garantido antecipadamente pelo entusiasmo das Agremiações, pela criatividade dos compositores e sambistas e pela dedicação especial dos dirigentes de Escolas de Samba e blocos carnavalescos. Um outro fator catalisador do sucesso do Carnaval de rua de Juiz de Fora era a importância dado a ele pela imprensa local. Percebe-se que o extinto Diário Mercantil realizava um espécie de contagem regressiva para a festa, com manchetes e reportagens de páginas inteiras, fazendo com que o leitor sentisse um desejo em participar da festa.

O declínio

Em 1984 os rumos do Carnaval juizforano começaram a mudar. Embora tenha havido um projeto de se mudar a fórmula do Carnaval de rua da cidade, com mais opções de entretenimento para a população e apenas um dia de desfile, a FUNALFA – Fundação Alfredo Ferreira Lage – com receio na inovação, não realizou nenhuma mudança. Na tentativa de captar recursos, as Escolas de Samba realizaram Batalhas de Confetes antes da festa em si, caso observado pela Escola Real Grandeza. (TRIBUNA DE MINAS, 18/02/1984) A crise financeira, além de afetar como de praxe as Escolas, agora afetava também os clubes, que em sua maioria não realizou bailes este ano.
Em 1986, muitas das escolas mais tradicionais do primeiro grupo da cidade não desfilaram, o que contribuiu para o enfraquecimento do desfile perante o público. Ainda assim, o povo tomou as ruas da Avenida Rio Branco, divertindo-se com os trios elétricos e desfiles de fantasia em carro aberto. (Revista Oficial do Carnaval JF, 1986) Toda essa situação aconteceu em decorrência de diversos fatores, que vão desde crises internas nas agremiações, passando pelas chuvas e chegando até a falta de apoio do comércio (de bares, restaurantes e rede hoteleira), dos empresários, da imprensa e público (ambos somente lembram das Escolas na época do Carnaval). Esse aglomerado de complicações ocasionaram o início do declínio do Carnaval da cidade. (TRIBUNA DE MINAS, 02/02/1986)
A realidade do Carnaval juizforano foi muito bem descrita por José Carlos Passos, então presidente da Escola de Samba Turunas do Riachuelo:

“(…) O Carnaval de Juiz de Fora já foi melhor, não pela parte financeira – que sempre foi pequena. (…) Um bom carnaval atrai turistas, gera divisas. É uma festa de luxo e riqueza. Agora, sem decoração e sem escolas do primeiro grupo desfilando a situação fica difícil. O Carnaval acaba ficando sem graça.” (TRIBUNA DE MINAS, 04/02/1986)

O dia 21 de dezembro de 1988 foi marcado como o divisor de águas entre o Carnaval dos tempos áureos e a atualidade medíocre. Nesta data foi marcada uma reunião entre os representantes das agremiações carnavalescas e o prefeito eleito, Alberto Bejani, para decidir os rumos do Carnaval do ano seguinte. Ainda não organizados, os presidentes das escolas tentaram, em vão, adiar a reunião; porém, o prefeito já havia encerrado as negociações e não liberou as verbas para os desfiles do primeiro grupo.
Na realidade, durante a administração da cidade, entre 1989 e 1992, o Carnaval de Juiz de Fora sofre seu maior descaso por parte do poder público. Durante este período, não houve desfiles oficiais, e o maior atrativo da cidade foi se desfigurando perante turistas, visitantes e própria população local. Com relação a isso, o prefeito da época, Alberto Bejani, justificou a falta de incentivo público ao Carnaval, em decorrência da crise econômica que assolava o país e que culminou com apenas 45% da cidades brasileiras realizando esta festa. (dados disponibilizados por Alberto Bejani, em 1990, no artigo Alegria e Respeito)
Com argumentos orçamentários, o poder público justificou sua não-participação, argumento este usado também pelas Agremiações. A conclusão é simples: o carnaval de 1989 ficou conhecido como o “Carnaval do fracasso” e como sendo o pontapé inicial para o declínio posterior.

Em 1990, através de um plebiscito, o povo escolheu que o desfile retornasse à Avenida Rio Branco entre as ruas Floriano Peixoto e Espírito Santo. Neste ano, mesmo com todos os problemas, houve um retorno ao antigo projeto de gravação do LP dos samba-enredos das Escolas de Juiz de Fora, inovando com o lançamento programado para antes do Carnaval. A inovação ficou por conta da transmissão ao vivo dos desfiles pelo SBT/ TV Tiradentes, canal 10, na terça-feira de Carnaval. Quatro clubes da cidade, visando uma atratividade maior para seus bailes carnavalescos, criaram anúncios divulgando suas festas e dando destaque para a padronização dos preços, captando público com outra motivação aquém a esta.

O ano de 1993 foi marcado pela realização de um desfile não-oficial das Escolas de Samba. A Funalfa organizou uma série de eventos pré-carnavalescos, que se iniciou com o Arrastão da Alegria, um desfile animado por uma banda, realizado no Parque Halfeld, uma semana antes da folia oficial. O desfile das Escolas ocorreu em dois dias, domingo e terça-feira de Carnaval, pelas mesmas Agremiações, cabendo ao segundo dia a presença da Escola de Samba do Rio de Janeiro Mocidade Independente de Padre Miguel. Neste ano de 1993 a premiação foi oferecida pela imprensa local, que elegeu os melhores de cada categoria. (TRIBUNA DE MINAS, 19/02/1993)
Já em 1994, no governo de Custódio Mattos, tentou-se uma saída para a crise que se instaurou no Carnaval. A prefeitura investiu em infra-estrutura e divulgação, buscando atrair o visitante e dotar a cidade de uma diversão saudável. Porém, vale ressaltar, que não foram disponibilizadas verbas às Escolas de Samba, cabendo a estas o dever de capitalizar seus próprios recursos.
Em 1996, “(…) 1997 e 1998, os desfiles oficiais das Escolas de Samba (…) aconteceram na Avenida Brasil. Em 1999, devido a dificuldades financeiras enfrentadas pela prefeitura, as Escolas não desfilaram e a Funalfa promoveu um Carnaval popular alternativo, com desfiles de blocos, bandas e bailes populares. Mas, em 2000, a magia do Carnaval retornou à Avenida Rio Branco, transformando o centro da cidade em um palco de emoções. (…) Paralelamente aos desfiles oficiais, a Funalfa promoveu, no Terreirão do Samba, bailes populares com grupos locais e artistas convidados (…) que reuniram, durante os quatro dias, um público superior a 50 mil pessoas (…)”. (BARRAL, 2004, p.45)
Um ponto de destaque no Carnaval de 2000 foi o apoio dado pela CDL – Câmara dos Dirigentes Lojistas, que realizou campanha para que os juizforanos ficassem na cidade durante a folia. Esse suporte causou resultados, visto que lojas do ramo carnavalesco tiveram um incremento de 50% em suas vendas em relação a 1999. Além disso, dois grandes hotéis da cidade, César Park e César Palace, montaram um pacote, que incluía um camarote nos dias dos desfiles, divulgando a cidade nas principais cidades do Sudeste do Brasil.

A realidade Contemporânea

Nos primeiros anos do novo século, Juiz de Fora não inovou na apresentação de seu Carnaval, mas conseguiu manter um nível satisfatório, ao menos para sua população residente. No entanto, notou-se que a festa já não era mais a mesma, principalmente pelo número de componentes das Escolas, queda observada alguns anos depois. De acordo com o jornal Diário Mercantil (04/02/1979) a Agremiação Acadêmicos do Manoel Honório possuía cerca de 1200 integrantes no ano de 1979; já no ano de 2005, a Escola contava com apenas 600 foliões (FUNALFA, 2005). O mesmo ocorreu com a escola Turunas do Riachuelo, que em 1980 possuía 2000 integrantes (DIÁRIO MERCANTIL, 09/02/1980) e em 2005, esse número se reduziu a 1000 integrantes (FUNALFA, 2005).
Em 2004 houve o resgate do Concurso de Fantasias, com um total de prêmios estimado em “(…) R$8.000,00. A Prefeitura também inovou ao realizar o Baile Oficial no sábado de Carnaval, em plena Rio Branco. (…) Desde a criação do Troféu Pandeiro de Ouro, diversos carnavalescos, entidades e foliões foram homenageados pela Funalfa. (…)” (BARRAL, 2004, p.47) Com o Carnaval acontecendo na Avenida Rio Branco já a cinco anos consecutivos (algo raro na história do Carnaval juizforano), a antiga discussão sobre a viabilidade da realização do espetáculo das Escolas de Samba na avenida principal da cidade veio a tona. Em meio a várias opiniões contrárias ou favoráveis, Maria Barral, num caderno anual da Funalfa, tenta descrever a importância de tal avenida para o Carnaval juizforano:

“Os transtornos causados pela montagem das arquibancadas, com uma rapidez espantosa, podem afetar um pouco o fluxo de trânsito na artéria principal da cidade, mas não provoca um colapso e revigora o pulsar alegre do cidadão do samba, apaixonado e resgatado pelo ato cidadão e de inclusão: sou o dono da cidade…” (BARRAL, 2004, p.48)

Numa época em que reina a inversão, tão esplanada por Roberto da Matta, por que não se deixar influenciar por esta máxima e inverter o trânsito para um bem maior… para um bem social… aliás, o que melhor para uma prefeitura do que proporcionar circo ao povo, já que falta o pão? Esse era o pensamento de grande parte dos que apoiavam a realização da festa na Avenida Rio Branco.
2005 foi um ano de transição entre a administração do prefeito Tarcísio Delgado e Alberto Bejani e, portanto, a festa ocorreu sem modificações aos anos anteriores. No entanto, em entrevista ao site Acessa.com, em janeiro do mesmo ano, a superintendente da Funalfa Érica Delgado comentou a respeito do trabalho pensado pelo prefeito eleito:

“(…) Tudo que a gente pensa em fazer, como trabalhar com as escolas de samba durante o ano todo, motivando-as, se dará em um processo longo, que só poderemos implementar em 2006, e além disso, (…) o prefeito vem falando nisso seguidamente, sim, porque reconhece essa necessidade (…) é desejo do prefeito que, a partir do ano que vem, já exista um sambódromo (…)”

Quanto ao Carnaval dos clubes, não se observa um projeto concreto para seu resgate, já que se encontram expostos às intempéries do sistema. Segundo Edson Reis, presidente do Esporte Clube Benfica, em entrevista ao site Acessa.com, em fevereiro de 2005:

“Mas os custos são muito altos, principalmente em relação à cobrança dos direitos autorais feita pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Além disso, o movimento axé e os trios elétricos tiraram os Carnavais dos clubes. O Ecad cobra caro e a freqüência é pequena. O clube não tem como arcar com todas as depesas (…).”

Neste ano de 2006, a Liga das Escolas vem com uma nova iniciativa, de dar espaço a projetos de inclusão social realizados pelas Escolas de Samba. Será realizado um desfile, de duas Escolas mirins – “Estrelinha de Davi” e “Princesinha de Minas” – atreladas às Escolas Juventude Imperial e Unidos do Ladeira, respectivamente. Além disso, continuam os desfiles dos grupos 1A e 1B, seguidos dos desfiles de avaliação. A principal mudança foi, novamente, em relação ao local do desfile que agora passou a ser na Avenida Brasil, na altura do Museu Mariano Procópio, o que despertou manifestações contrárias e a favor.
Segundo a Superintendente da Funalfa, Érika Delgado, o custo total do carnaval 2005 para a Prefeitura foi R$ 684 mil, sendo que R$ 300 mil foram repassados à Liga das Escolas de Samba e distribuídos entre as escolas e os outros R$ 384 mil foram para a Funalfa, para que toda a infra-estrutura da avenida fosse montada, além de dar apoio a blocos e bandas da festa. (ACESSA.COM, 01/2005) Já em 2006, a prefeitura promete gastar R$ 300 mil com estrutura e R$ 470 mil com as Agremiações, num total de R$ 770 mil. (JORNAL PANORAMA, 05/01/2006)
Apesar do aumento de R$ 30 mil para R$ 55 mil para cada Escola do grupo 1-A, este valor ainda se mostra aquém da necessidade de cada Agremiação de se realizar o desfile. Apenas para exemplificar, a escola de samba Unidos do Ladeira, campeã do carnaval 2004, contabilizou um gasto de cerca de R$ 90 mil para realizar este desfile, como afirma seu presidente Nilton Braida, em entrevista ao Jornal Panorama do dia 24 de fevereiro de 2004. De toda maneira, já é um passo importante da atual gestão do prefeito Alberto Bejani em tentar se resgatar esta tradicional festa juizforana e brasileira.

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Este texto foi feito pelos alunos de Turismo Renan Alexandre Ligabo de Carvalho¹ e Victor de Oliveira Rosa² e faz parte do Trabalho de Conclusão de Curso da Universidade Federal de Juiz de Fora, do 2° semestre de 2005, intitulado “Carnaval das Escolas de Samba de Juiz de Fora: Análise e tendência em 40 anos de inconstância…”. As referências bibliográficas constam no trabalho.


2 comentários

leandro bettim · 8 de abril de 2014 às 1:21

boa noite!!preciso para uma pesquisa saber sobre o desfile de 1977! letras do sambas, o que conseguir
obrigado

jesus alves da silva · 14 de janeiro de 2014 às 9:35

magnifica reportagem muito boa pesquisa ,vivi praticamente todos estes momentos,

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