Unidos de Bangu anuncia enredo e entrega sinopse aos compositores

Publicado por Rota do Samba em

Unidos de Bangu anuncia enredo e entrega sinopse aos compositores

A Unidos de Bangu anunciou na noite da última sexta-feira, dia 26, o enredo que a agremiação da Zona Oeste levará à Marquês de Sapucaí no Carnaval de 2018. Apresentado pelo carnavalesco Cid Carvalho, o tema “A Travessia da Calunga Grande e a Nobreza Negra no Brasil” é um retorno ao tempo para desvendar os segredos das tribos africanas que foram escravizadas e trazidas para as terras brasileiras.

Na ocasião, a diretoria entregou a sinopse e o regulamento aos compositores. A entrega dos sambas está marcada para o dia 16 de julho, das 15 às 20 horas, no Casino Bangu, na Rua Fonseca 534, no bairro de Bangu. Cada parceria poderá ter no máximo oito compositores e duas participações especiais. A taxa de inscrição será no valor de R$ 30,00, por compositor, no momento da entrega dos sambas.

A primeira apresentação dos sambas concorrentes será no dia 22 de julho a partir das 22 horas, no Cassino Bangu. Ficará a cargo da direção se a apresentação terá caráter eliminatório ou não, pois as eliminatórias serão realizadas aos domingos, com inicio as 18 horas. Serão avaliados os seguintes quesitos: letra, melodia e enredo. Em caso de empate entre duas ou mais composições, a decisão final será do presidente da agremiação.

A ordem de apresentação dos compositores no concurso de samba-enredo Carnaval 2018 obedecerá a um sorteio que será realizado pela diretoria com as parcerias concorrentes, uma hora antes do início de cada eliminatória. A grande final está marcada para o dia 03 de setembro, já que a Unidos de Bangu será a última escola da Série A a escolher seu hino oficial. O samba-enredo de 2018 será conhecido na madrugada do dia 04 de setembro.

Antes de todos conheceram o enredo que abrirá o Carnaval da Passarela do Samba, o presidente Marcelo do Rap agradeceu a presença de todos e passou a palavra ao apresentador oficial da noite, Rodney Figueiredo, que convidou para subir ao palco a equipe de 2018: Marcelo Varanda, diretor de carnaval; Alcides Kenga, diretor de harmonia; Diego Falcão e Jack Gomes, primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira; Leandro Santos e Thiago Brito, intérpretes; Rodrigo Marques e Guilherme Diniz, diretores artísticos; tia Damiana, diretora da ala das baianas, e vice-diretor, Guilherme Andrade; Kaiio Mackenzie, diretor da ala de passistas; Alexandre Carlos, vice-presidene; Cid Carvalho, carnavalesco; Jorge Teixeira e Saulo Finelon, coreógrafos da comissão de frente (não estiveram presentes por compromissos profissionais); e Simões Gama, diretor operacional.

Em 2018, a Unidos de Bangu abrirá o desfile da sexta-feira de Carnaval da Marquês de Sapucaí pela Série A, da Lierj.

 

“A travessia da Calunga Grande e a nobreza negra no Brasil”

S I N O P S E

Esse enredo poderia começar aqui mesmo no Brasil.

Porém, ele vem de longe, e os ventos da história nos levam a voltar no tempo para desvendar os segredos das tribos africanas que foram escravizadas e trazidas para as terras brasileiras.

Porque tudo tem começo, início, gênese. E é o sangue que corre quente dentro de nós, que alimenta o fogo ancestral que faz esse começo. E para isso se faz necessário irmos ao encontro dos fundamentos dos reinos milenares do continente negro, expresso nas coroações dos reis congos e na essência da africanidade da cultura negra do nosso país.

Não somos descendentes de escravos. Somos descendentes de civilizações africanas, de reinados fortes e poderosos. Somos descendentes de reis e rainhas, príncipes e princesas.

Somos herdeiros do Alafin de Oyó. Em nossas veias corre o sangue da rainha Ginga de Matamba.

Somos frutos de um povo que conhece as folhas e que sabe como despertar o poder delas, somos filhos da natureza, somos filhos da água, terra, fogo e ar; nosso povo sabe estar no Aiyê, a terra, sem perder a essência do Orum, o céu.

É que muito, muito antes da chegada do branco escravocrata, nós formávamos um reino mágico e sagrado dividido em clãs que, em sua maioria, recebiam nomes ligados a animais e elementos da natureza: clã do camaleão, clã do leão, clã do crocodilo e até clãs das aves e peixes.

Porque a África sempre foi muitas dentro de uma só, até ser retalhada pela escravidão e misturada de qualquer jeito em continentes distantes, depois das grandes águas, depois da travessia da calunga grande.

Trabalhando principalmente na mineração, nas plantações de café e cana-de- açúcar e nos engenhos, essa mão de obra escrava se espalhou por todos os cantos do Brasil colonial resultando em uma grande presença de homens e mulheres negras em nosso território, semeando as marcas definitivas da cultura africana onde se fixaram. Porém, apesar de terem lhes tirado a liberdade, não tinham lhes tirado tudo; eles tinham suas memórias, sabiam quem eram e de onde vinham. Tinham orgulho de suas origens, muitas vezes nobres, de seus deuses, de seus ancestrais.

Porque a África, fora da África, sempre foi, acima de tudo, uma realidade espiritual e a própria representação de grandes reinos ancestrais e vindouros sob o disfarce da eternidade.

Axé Bahia de todos os santos Yorubás, porta sagrada da entrada dos reis e rainhas negras no Brasil. Bendito seja o ouro de tuas entranhas que fez reluzir a liberdade dos filhos dos açoites que sofriam nas senzalas.

Suor escorrendo pelas cicatrizes, o rico metal escondido nos cabelos e a liberdade comprada.

Eis que a rainha feiticeira, soberana do Querembentã de Zomadônu, se tornou senhora da terra da encantaria.

Salve Vila Rica dos fundamentos e das minas gerais. Louvado seja teu solo onde Galanga Chico rei nunca perdeu a majestade!

Abram-se trilhas mata à dentro ou serra acima. E que essas trilhas se transformem em caminhos de resistência e sobrevivência como os traçados por Zumbi, rei dos Palmares e por 
Tereza de Benguela, rainha do Quariterê!

E será esse sangue quilombola o eterno elo a nos unir. E através de nossas manifestações culturais, espalhadas pelos cafundós desse país, exaltaremos nossos reis e rainhas negras.

Eis que o manto negro da noite já veio saldar seus filhos pretos, anunciando, sob as bênçãos de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito, que é hora do cortejo sagrado do maracatu desfilar para honrar nossos ancestrais.

No altar da igreja o capelão coloca cuidadosamente a coroa dourada na cabeça da negra. É uma senhora idosa, de porte altivo e vestida à moda das grandes damas da corte.

A parte de dentro da igreja está quase vazia. Além dos então coroados rei e rainha e alguns personagens da corte negra, a cerimônia é assistida apenas por poucos negros forros, alguns fiéis e o capataz do senhor daquela escravaria toda.

No lado de fora, porém, a situação é distinta. A massa de negros aguarda ansiosamente a saída de sua rainha. Cantam e dançam no ritmo dos bombos, caixas de guerra, agbês e gonguês. O porta-estandarte segura o símbolo da nação com orgulho e as damas do paço exibem as bonecas sagradas. Baianas vestidas de chitão ou com suntuosos paramentos apresentam-se com seus trajes, acompanhadas de pajens e leques. Daí a alguns instantes, quando os já coroados reis deixarem a igreja sob um pálio ricamente ornado, um enorme e ruidoso cortejo percorrerá as ruas da cidade, iluminadas pelas fracas luzes de suas luminárias.

Dali até o amanhecer os negros irão cantar louvores aos seus reis coroados.

Assim como era na África!
Portanto, que não se calem os tambores e que não nos falte a memória!
Salve a magia da África que vive dentro de cada um de nós!
Salve a nobreza negra no Brasil!

Cid Carvalho
Carnavalesco

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Adriana Vieira
Assessora de Imprensa
Gres Unidos de Bangu


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